Meri, Lucien e "carta" de Jean Paul (ano 6)

Meridiana estava sentada debaixo de uma árvore na orla do lago. O olhar perdido nas folhas douradas de outono que balançavam preguiçosamente nos galhos da árvore, enquanto afagava o pêlo cinzento de Lady Bast, que ronronava dengosamente no colo de sua dona. O dia estava costumeiramente frio como estiveram quase todos naquele mês de outubro, mas aquilo não parecia incomodar a ruiva, que usava apenas a capa do uniforme para se agasalhar.



Fazia alguns dias desde que os estudantes foram a Hogsmeade e não havia previsão de voltarem ao vilarejo depois do trágico acontecimento ocorrido com Katie Bell. E fazia também alguns dias que Meri vira Lucien e Selune no Três Vassouras, naquele canto escondido, fazendo algo que pareceu à ruiva um beijo. Ou não? Ela balançou a cabeça. Por que negar uma coisa que lhe era tão óbvia? Só por que teve a esperança de que o que Lucien sentia por ela era equivalente ao amor que ela sentia por ele?



Derramou todas as lágrimas silenciosas que podia quando voltou ao castelo naquela noite. Não contara a ninguém o que ocorrera, tampouco o que a afligia. Nem mesmo à Raven, apesar de saber que a melhor amiga notara seu abatimento e só se absterá de insistir em saber os motivos por conhecer Meri o suficiente para entender que a ruiva precisava de tempo para digerir o que quer que a estivesse incomodando.



Meridiana também não disse nada a Herman, ainda....Não tivera coragem de destruir as ilusões e esperanças dele. Não queria que o amigo sentisse o mesmo vazio que ela sentia agora. Volta e meia ela duvidava do que tinha visto. Estava escuro, e ela não estava próxima o suficiente para ter certeza...Mas ela tinha certeza...E doía-lhe tanto aquela certeza...



-Meri?



Ela abaixou os olhos buscando o dono da voz que a chamara, e para seu infortúnio, era Lucien. Sentiu como se a respiração tivesse-lhe morrido em meio a um nó que lhe comprimia o peito.



-Imaginei que estaria aqui - disse ele, sorrindo - Seu recanto favorito. Só não tenho um stollen* para te dar desta vez.



-Tudo bem... - respondeu ela com um sorriso pálido.



O moreno fitou a ruivinha levemente preocupado. Havia algo visivelmente errado com ela. Será que o tio de Meridiana fizera novamente algo para deixa-la naquele estado?, perguntou-se Lucien. Selune havia lhe relatado sobre Ludovic Black-Thorne no último verão, quando o comensal atacara Alexis, pai de Lucien, quando este investigava os rastros de Karkaroff na Europa continental. Alexis chegara tarde demais para impedir a morte do antigo diretor de Durmstrang, e ainda fora quase mortalmente ferido por Ludovic. Não fossem os parentes de Selune e os tratamentos alternativos a que submeteram o auror, certamente Lucien teria perdido o pai também. Uma infeliz coincidência que tenha sido Ludovic o responsável por tudo isso, justo o tio da sua ruivinha... O mesmo que desejava a todo o custo trazer a sobrinha para o seu lado. O lufano ainda não contara à Meri que sabia a verdade sobre o tio dela. Precisava esclarecer outra coisa primeiro.



-Posso me sentar, fraulëin?



Ela apenas assentiu com um discreto meneio de cabeça. O rapaz sentou-se ao lado dela, em silêncio, os joelhos fletidos, com os braços apoiados sobre eles.



Lucien questionava-se se aquele seria o momento adequado para falar com Meri. Fazia um bom par de meses que decidira declarar-se a Meridiana, dizer o que sentia por ela, independente da resposta. Quase tentara fazer isso na festa de aniversário da ruiva, mas, deixara a chance lhe escapar, por pura falta de coragem. E quando o passeio a Hogsmeade chegou, acreditou que aquela seria a oportunidade perfeita. Mas acabaram se desencontrando completamente. Talvez Meri até tivesse ido ao Três Vassouras como combinaram e chegara exatamente no momento em que ele e Selune pregavam a pequena peça em McLaggen.

O setimanista já estava incomodando a francesinha fazia um tempo, e Lucien não poderia negar um favor à sua quase-irmã. Se Meridiana chegou ao pub naquela hora, deve ter pensando que não estavam lá e voltado para o castelo.

Depois disso ele não viu Meri durante todo o resto da semana. Ela até mesmo faltara às aulas de Runas Antigas que faziam juntos. Apenas a viu, ao longe, no Salão Principal. Sua última tentativa de se encontrar com ela foi na reunião promovida por Slughorn. Selune ouvira o atual mestre de Poções fazer o convite à Meri, e, na esperança de que ela aparecesse, nem que por mera cortesia, ele e a francesinha se submeteram a comparecer ao Slug Club, mas o sacrifício foi em vão. Nem sombra da moça de cabelos carmesim. Sel prometera tentar conversar com ela, mas uma série de desencontros, impossibilitou que a jovem Mont-Blanc Priout sondasse a ruiva no que dizia respeito à Lucien... Pareceu ao rapaz que o destino estava brincando com eles. Como se os dois estivessem bailando passos de dança completamente desencontrados.



Mas agora, eles estavam ali, juntos sob a mesma árvore na qual ela adormeceu certa vez encostada no ombro dele.Ou ele falava agora ou não saberia quando teria uma nova oportunidade.



-Meri...- começou ele, levemente enrubescido, postando os dedos suavemente sobre a pequena mão da menina. Porém, antes que ele percebesse, a moça puxou sua própria mão, afastando-se do toque dele.



-Jean Paul me escreveu - disse ela, seca.



Meridiana fechou os olhos quase automaticamente. De onde tirara aquilo?, pensou a moça consigo. Por que pensara justamente no ex-namorado quando sentira o calor dos dedos de Lucien sobre sua pele?



O rapaz arqueou levemente a sobrancelha. Embora a ruivinha nunca tivesse mencionado o ex-namorado para Lucien anteriormente, ele sabia da existência do francês. Ela ainda estava comprometida com Jean Paul quando Lucien a conheceu, e, apesar do que ele sentia por ela já ter começado a florescer desde aquela época, o austríaco nada fez a respeito do namoro de Meri, primeiro por não ter ainda plena certeza de seus sentimentos, segundo em consideração à própria Meridiana.



-Acho que nunca falei dele para você... É meu ex-namorado. Formou-se em Beauxbatons no ano passado... Ele me pediu para voltarmos o namoro. - disse ela, em um atropelo de palavras para não perder a coragem (ou covardia) de dizer tantas mentiras de uma única vez. Contudo, havia uma parte de Meri que desejava que Lucien sofresse com aquilo como ela sofria por ele.



-E você? - perguntou ele tentando parecer calmo, quando na verdade sentia como se uma poção ácida e amarga estivesse corroendo suas entranhas, ante as possibilidades que a resposta dela trariam.



Meridiana desviou o rosto do olhar de Lucien, fixando suas orbes esmeraldinas na mancha em forma de meia lua que se destacava no dorso acinzentado de Bast. Queria dizer a ele que sim, que iria voltar para Jean Paul, mesmo achando que aquilo não teria significado algum para Lucien, mas fraquejou no último segundo:



-Ainda não sei...Estou confusa...Pedi um tempo para pensar...



-Entendo - respondeu o rapaz, sem conseguir discernir se o que sentia ao ouvir a resposta da ruiva era alívio ou angústia. Talvez houvesse uma esperança para ele, ainda que tênue. - Mas, por que você está me contando isso tudo?



-Bem...porque você é meu amigo... - respondeu ela, em um fio de voz...



-Então é isso que eu sou para você, Meri? Um amigo? - perguntou o lufa-lufano, deixando escapar uma leve pontada de amargura na fala, que possivelmente a grifinória teria notado não estivesse tão afogada em sua própria mágoa.



-O melhor.- falou a ruivinha numa dolorosa mistura de tristeza e sinceridade. Ela contara tantas mentiras para ele até agora, mas não conseguiria mentir-lhe sobre isso. Ele era especial para ela, mesmo a fazendo sofrer tanto.



O rapaz não fez mais nenhum comentário, apenas continuou a fitar Meridiana, com uma expressão neutra no rosto. Repentinamente uma golfada de um vento gelado chocou-se contra o rosto da menina e involuntariamente ela tremeu de frio. No mesmo instante, sem dizer uma única palavra, o rapaz tirou o casaco que usava colocando sobre os ombros dela.

Meri deixou-se aquecer pelo casaco de Lucien, e, subitamente toda a raiva que sentira desapareceu. Não podia obrigar Lucien a amá-la, nem culpa-lo por não corresponder ao que ela sentia. Sabia que não podia odiá-lo, mas, também era incapaz de aplacar a mágoa que pulsava dentro dela naquele momento. Fingir que gostava dele apenas como um amigo talvez lhe fosse custoso demais... Só o tempo poderia responder-lhe isso.



Já Lucien, por sua vez, tentava digerir o que acabara de ouvir. Se Meridiana estava confusa sobre o que ainda nutria pelo ex-namorado, não seria justo que ele despejasse sobre ela a verdadeira natureza de seus sentimentos. Se ela precisava de um tempo, ele também daria esse tempo para ela. Mesmo que aquilo também lhe fosse dolorido demais.







por Meridiana



*stollen, doce tipico da Áustria, uma espécie de pão doce recheado com frutas cristalizadas.




Para mais detalhes, leiam a fic "Hogsmeade - Muito Barulho por Nada" (06/06) clicando AQUI

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