Meri, Lucien e trestálios (ano 5)

Salão Principal. Fora do horário das refeições, alguns alunos serviam-se das mesas do lugar para fazerem os últimos deveres dados pelos professores.
Na ponta da mesa da lufa-lufa, Lucien von Weizzelberg encontrava-se sentado, rodeado por alguns livros. Passara parte da tarde desenhando, e decidira que agora precisava dedicar-se um pouco aos estudos. Era um cara bastante calmo, mas até mesmo ele começava a se sentir afetado pela paranóia envolvendo as NOMs que tomara conta de todos os quintanistas. Olhou por algum tempo para sua última ilustração. Afastou o caderno de desenho e voltou-se novamente para as anotações que fizera nas aulas de transfigurações. Começava a embalar no ritmo do estudo quando foi suavemente interrompido por uma voz conhecida.

Está faltando um S nesse feitiço que você anotou. É mutatis e não mutati

Olhou para cima e viu uma ruiva de brilhantes olhos verdes fitando-o seriamente.

Senhorita Meridiana, tudo bem com você?, perguntou, simpático.

Na verdade, mais ou menos. Será que posso me sentar?

Claro. Qual o problema?

Estou preocupada com Lady Bast., disse a grifinória mostrando a gatinha cinzenta que trazia nos braços. Você reparou que ultimamente ela anda um pouco tristonha e quieta? Pensei em leva-la para o Hagrid examinar, mas, como você é co-proprietário dela, queria sua opinião primeiro.

Deixe-me ver., disse ele, tomando a gata para si. Apalpou a barriga da bichana, olhou em seus olhos, abriu-lhe a boca. Devolvendo Bast para Meridiana, disse: Acho que já sei o que é. A senhorita não precisa se preocupar.Lady Bast está perfeitamente bem. Ela está assim um pouco chatinha porque está trocando os dentes. Daqui uns dias ela vai voltar a ser a sapeca de sempre.

Ah, eu não acredito que me preocupei tanto por tão pouco. Esqueci completamente que gatos também trocavam a dentição. Embaraçada, desviou seu olhar do de Lucien. Seus olhos acabaram por pousar inadvertidamente no caderno de desenhos do rapaz, que se encontrava aberto próximo dos livros. A gravura que estava ali era ao mesmo tempo estranha e atraente. Parecia uma espécie de cavalo, contudo lembrava ao mesmo tempo um réptil. Tinha um couro escuro, colado em um esqueleto bastante visível. A cabeça se assemelhava a de um dragão, e os olhos eram brancos e sem pupilas. Da junção das espáduas saíam duas asas negras que lembravam as de um morcego.

Isso é... impressionante!, exclamou Meri ao ver o desenho. Bastante sombrio, é verdade, mas fascinante. Adoro esse estilo mais gótico de ilustração. Você adoraria as capas de Sandman feitas pelo Dave McKean. Vou pedir o Herman emprestado para te mostrar!

Lucien parecia completamente espantado ante todo aquele entusiasmo de Meridiana. Quanto mais convivia com a menina, mais deslumbrado ficava. Ela era como um caleidoscópio, que a cada olhada revelava uma nova e bela faceta.

Foi você quem criou esse designer inusitado?

Não, na verdade eu desenhei por observação mesmo. É um tressálio. Por que contou isso a ela? Teria sido melhor mentir, concordar com a pergunta que ela lhe fizera. Mas, sem saber o motivo, sentia que Meridiana merecia a verdade, sentia-se incapaz de mentir-lhe.
Meri, por sua vez, emudeceu completamente ao ouvir a resposta do rapaz. Conforme aprendera nas aulas de Trato de Criaturas Mágicas, ela sabia que apenas pessoas que viram alguém morrer podiam enxergar tais animais. Em consideração ao amigo, preferiu não perguntar nada, apenas contentou-se em comentar:

Bem, eu não sabia que eles eram tão interessantes. E seu desenho está mesmo fenomenal.

Muito obrigado, senhorita Meridiana., respondeu Lucien, duplamente agradecido: pelo elogio ao seu trabalho e pela discrição da garota.

Não há de quê., mudando de assunto, emendou.Lucien, eu...queria te pedir um favor...Bem, só se você não se incomodar, é claro.

Pode pedir.

É que, sabe, nós nos conhecemos já faz um tempinho...Já passamos por tantas coisas juntos, até temos uma gata em comum. Eu te considero um bom amigo e exatamente por isso acho que poderíamos deixar as formalidades de lado. Queria te pedir para me chamar de Meri. Meus amigos me chamam assim.

Você não se importaria? Não acharia falta de respeito ou atrevimento?

Claro que não! Muito pelo contrário.

Então, já que é importante para você, prometo tentar...Meri.

Vou indo então. Afinal, você precisa estudar.

Não precisa ir embora. Você poderia me ajudar, não? Acho que têm uns erros nas anotações; ás vezes me embaraço um pouco com o inglês.

Claro, disse ela, sentando-se novamente ao lado do rapaz, colocando a gatinha no chão.
Lucien olhou para o caderno e depois, com o canto do olho, para a ruiva, que já explicava as anotações eloqüentemente. Não conseguiu conter o sorriso. Meridiana era uma garota especial.

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